ainda não sei tudo que já aprendi até agora reúne trabalhos produzidos entre 2018 e 2020 em sua maioria veiculados no instagram de sua autora, Lara Fuke. O livro traz observações do mundo feitas de um ponto de vista singular e cheio de ternura: hesitações diante de tarefas cotidianas, mensagens de texto não respondidas, listas de coisas que “deixamos mas não queremos perder” ou “que têm uma enorme habilidade de conexão”. São miudezas coletadas do mundo e catalogadas com um traço simples que, talvez pela própria simplicidade, lhes emprega profundidade. 
 
Alguns elementos são recorrentes no livro: certa percepção da passagem do tempo, o desenho de corpos, a desconfiança com algumas ideias supostamente ordinárias. O exercício de Lara parece ser justamente o de deslocar os pequenos objetos e gestos de seus lugares-comuns. E seus desenhos-poemas não deixam de ser perguntas, dúvidas, conforme o próprio título do livro sugere. 
 
O movimento de coleta e catalogação das coisas do mundo é mais determinante no projeto poético de Lara do que um pensamento sobre campos específicos da arte. O que ela faz é poema, é desenho, é tirinha, habitou espaços digitais e agora habita um livro impresso. E esse livro é também um arquivo público de seus cadernos, um caderno de artista que é também diário, espaço para fabulação e pensamento crítico. 
 
O projeto gráfico é de Daniel Rocha e traz uma capa com impressão serigráfica. Seu maior desafio durante o processo de construção do livro foi entender como dar materialidade a uma linguagem originalmente do universo digital – dilema caro à produção editorial contemporânea.